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Date(s)
- 2023-10-17 (Creation)
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Documento simples
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112MB; suporte digital (mp4)
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Administrative history
Fundado em 1994 , o CIDEHUS começou por designar-se “Centro de Investigação e Desenvolvimento em Ciências Humanas e Sociais”. A sua área disciplinar nuclear era então a Sociologia.
A sua atividade organizava-se em quatro grandes campos:
1) Sociologia do Desenvolvimento;
2) História da Europa do Sul e do Mediterrâneo;
3) Educação e formação profissional;
4) Linguística Geral.
Em 2001 , quando passou a ter na História a sua disciplina nuclear , mudou de designação para Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades . Manteve a mesma sigla (CIDEHUS) e organizou-se em seis linhas:
1) O Sul: dinâmicas sociais e políticas
2) O Sul: culturas, discursos e representações
3) O Sul: património edificado, cultura material e arqueologia
4) Portugal e a Europa
5) Portugal e o Mediterrâneo
6) Portugal e os espaços de presença lusófona
Em 2007 , o CIDEHUS fixou a sua atenção nas problemáticas do Sul , condensando as anteriores linhas em três grupos:
RG1: O Sul e o Mediterrâneo: dinâmicas sociais e culturais
RG2: Património, Cultura Material e Arqueologia no Sul da Europa e no Mediterrâneo
RG3. Bibliotecas, Literacias e Informação no Sul
O programa nuclear foi de novo reajustado em finais de 2013 , configurando-se em torno de: «História, património e mudanças societais: um laboratório do Sul», ramificando-se em duas linhas temáticas, subdivididas em grupos – “L1: Mudanças societais” e “L2: Património e diversidade cultural” – e num grupo de articulação – Literacias e património textual.
O CIDEHUS assumiu então o modelo de laboratório para salientar o seu dinamismo e o seu interesse no conhecimento aplicado .
Em 2018 , o CIDEHUS sofreu uma nova reorganização, passando a dividir-se em apenas dois grupos:
G1 – Mudanças societais
G2 – Património, Literacias e Diversidade cultural.
Com esta alteração, o CIDEHUS pretende reforçar a coesão, estimular o trabalho colaborativo e potenciar as abordagens interdisciplinares.
No passado recente do CIDEHUS, destacam-se ainda os seguintes marcos institucionais:
- 2013 – Criação da Cátedra UNESCO
- 2014 – Criação do Laboratório de Demografia (DemoLab)
- 2016 – Lançamento do CIDEHUS Digital
- 2017 – Criação Laboratório de Turismo (Tourism Creative Lab).
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Composto pela gravação audiovisual da entrevista e a respetiva transcrição.
Transcrição
Entrevistada: Maria Amélia Paiva (MAP)
Entrevistadora: Manuela Oliveira (MO)
Data: 17 de outubro de 2023
Transcrição: Diana Henriques (14-15/11/2023)
Ficheiro MVI_6062
MO
Maria Amélia, bom dia
MAP
Bom dia
MO
Obrigada por nos conceder esta entrevista
A senhora tem uma vida bastante longa e tem muitas coisas por contar, mas vamos tentar que primeiro vai ter de explicar como era sua vida antes do 25 de abril, onde nasceu, como é que viviam e depois o ir para a escola, a sua infância como é que foi, explique lá
MAP
Eu fiquei sem mãe tinha quatro anos, depois fiquei amparada por os familiares, tenho só o ensino primário, fiz a primeira classe em Évora, depois vim para Portel para casa de uma tia, irmã do meu pai e fiz aqui até à quarta classe.
E regressei para Évora para o meu pai que já lá estava a minha avó a tomar conta dele. A vida deu muita volta, eu lembro-me da miséria, meu pai era albardeiro, tinha um ordenadozinho, mas era pequeno e lembro-me de ir para as bichas para apanharmos certas coisas.
A depois cresci, casei-me, a pois sim depois casei-me e fui para Lisboa e tive a minha filha. O meu marido trabalhou nos Monumentos Nacionais, estava bem, mas desafiaram-no para ir trabalhar por conta dele e ele foi, mas quando se apercebeu já tinha dívidas e deixou. Eu pedi para ele ir para a Alemanha, porque tinha lá muita gente amiga, e ele foi, teve lá nove anos. Eu fui lá duas vezes, mas não gostei de lá estar e a minha filha também não gostou e viemo-nos embora para Portugal.
A minha filha fez cá a primária e depois começou o estudar com muito sacrifício, eu trabalhava na costura noite e dia para ela poder estudar. Depois de fazer o primeiro ano já foi para Évora, porque aqui não havia ainda o ciclo. Ela depois fez uma formação, o pai veio-se embora, mas a câmara deu-lhe emprego, isso agradeço ainda no tempo da Dona Manuela. Ela arranjou emprego, mais tarde ela fez a vida dela e casou, a Dona Manuela por acaso é madrinha dela. E então tem um filho, e neste tempo todo arranjei trabalho no lar, como chefe de cozinha, tive, trabalhei lá vinte e dois anos só tive dois meses em casa quando fiz uma cirurgia, tirando isso nunca tive uma falta, fui sempre muito pontual. Tive um provedor da Misericórdia muito bom, que me deu sempre ordem para o comer, para tratar os idosos dentro da cozinha como eles lhes apetecia. E eu fiz sempre a vontade, ainda hoje quando vou a Évora o vou visitar, que ele ainda é vivo.
MO:
Maria Amélia, conte-me como foi, como soube, estava cá no 25 de abril?
MAP:
Estava na Alemanha
MO:
Estava na Alemanha. Como é que soube do 25 de Abril?
MAP:
Antes do 25 de Abril passamos muito.
MO:
Não, como soube?
MAP:
Como soube, como soube.
O 25 de abril foi assim, eu estava na Alemanha, de manhã já se sabe o emigrante põe logo o rádio para saber as notícias do seu país e ali começaram a meter as notícias de Portugal. No 25 de abril, ora, saíram para a rua, um chamava um, outro chamava outro e a festejar o 25 de abril pensando que se vinha para melhor. O 25 de abril realmente trouxe algumas coisas de bom, mas outras não. O pobre continua a ser pobre, o médio a mesma coisa e o rico ainda mais. E nós ficamos a olhar e a observar tudo. Eu contínuo um pouco melhor, mas ainda consigo trabalhar com 85 anos na costura, tenho uma lojinha no mercado municipal de Portel, para juntar à reforma para me poder tratar e poder alimentar. Porque, mudou, como digo, muita coisa, mas pouca. A câmara é belíssima, facilita muito, em muita coisa.
MO:
Dê lá exemplos do que a câmara faz para as pessoas, dê lá exemplos.
MAP:
A câmara dá espetáculos. Temos os seniores, eu também entro nos seniores, ainda com esta idade, ainda toco cavaquinho. A tuna, fui das primeiras na tuna, que com isto da epidemia parou, mas vai começar novamente, lá estarei. E faz uns passeios, também, quer dizer tem muitos eventos, para os idosos e espetáculos não faltam, porque temos um auditório muito bom e nós frequentamos o auditório com frequência, porque eles têm ballet, tem teatros, tem muita coisa.
MO:
Então e sente que a vida das mulheres se modificou?
MAP:
Sim, a vida das mulheres modificou em muito aspeto, por mim vejo
Eu hoje sou viúva, mas hoje faço uma vida muito melhor do que aquela que fazia antigamente, que antigamente, era tudo cheio de sacrifícios. E hoje eu sou muito independente, vou para onde quero, vou beber o meu café, por isso trabalho para poder ter essas coisas.
MO:
E sente que a vida das outras mulheres também se alterou?
MAP:
Sim, mudou, mudavam todas. Mudaram, a vida das outras senhoras mudaram todas. Nós temos grupinhos, juntamos, falamos, mas nem todos os grupos às vezes nos agradam, porque, isto é, como em tudo, nós muita coisa agradam-nos outras não nos agradam, e cada um faz a sua vida. O 25 de abril aqui na terra mudou muito, porque temos o centro de saúde também, o centro de saúde é bom, quando são bons médicos, porque eu tive um problema e para me tratar tive que ir particular, porque aqui não ia nem para frente, nem para trás. E então fui, a minha filha levou-me particular e fiquei sabendo que tinha problemas de coração, talvez derivado a muitos desses problemas que a gente tenha passado no antigo.
MVI_6063
MO:
Vamos falar então Maria Amélia. mais um bocadinho de mudanças sociais a seguir ao 25 de abril.
MAP:
O 25 de abril, ainda ficou por dizer uma coisa, mas vou dizer como a minha filha foi para Évora estudar, fez uma formação e hoje está na câmara de Lagos. Faz a vida dela, independente, mas é muito minha amiga. Todos os meses me vem ver e acompanha-me sempre aos médicos. E com isto, os jovens hoje são todos independentes, cada um escolhe aquilo que quer e faz aquilo que quer.
MVI_6064
MO:
Passados 50 anos que foi do 25 de abril, passados 50 anos, o que é que acha que foi, foram as maiores transformações, na sociedade aqui na vila.
Já falou na participação das mulheres, na liberdade dos jovens, na cultura, no desporto, fale um bocadinho sobre isso.
MAP:
Depois do 25 de abril, eu acho que pouco ou nada mudou, porque ainda há muito pobreza, há pessoas com reformas de 50 e 100 euros, que isso nem dá para comer uma semana, penso eu, para pagarem uma renda de casa, essa gente ainda vive pior do que eu. Apesar de eu ter dificuldades, mas acho que essa gente passa muito, que eu tenho muita pena dessa gente e quando posso ajudo. Eu entro em tudo quanto me pedem em ajudas eu colaboro sempre, com o pouco que tenho colaboro sempre.
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MO:
Muito importante, do que se lembrar fale.
MAP:
A câmara tem uma coisa boa para os reformados e a junta da freguesia. A junta da freguesia faz um almoço com as freguesias todas, em convívio todos, é um dia emotivo, muito bem passado. Eu quase sempre na feira medieval, que é para eles também irem à feira. E depois, a câmara também faz, a junta faz um passeio que agora vamos novamente a Vila Viçosa e dá o almoço e o pequeno-almoço. E depois temos o almoço do Natal que é da câmara, onde a câmara dá um almoço e um lanche e um presente, dá sempre uma lembrança e vamos todos muito felizes da nossa vida para casa.
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MO:
Mas houve muitas mudanças
MAP:
Quer saber das viúvas. As viúvas antes do 25 de abril, nós hoje achamos-lhes graça, não é? Eu como vejo muitos programas de história, às vezes dizem que isso já vinha de outra nação, de andarem assim, vinha de outra nação, que tiveram cá e ficou o luto. O luto vinha da azeitona preta, na história dizem isso, e então elas andavam todas de preto, meias, xaile pela cabeça, andavam anos e anos, e às vezes até morrerem, andarem, andavam assim. Só que hoje não anda ninguém assim, a gente põe ali os primeiros meses e tira o luto e cada um faz a sua vida. Morreu, morreu, nós não somos eternos.
O mesmo aconteceu a mim. Com a idade que tenho, ainda me lembra das pessoas andarem assim vestidas e como eu me visto hoje. Está tudo diferente.
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Mo:
Como era a sociedade antes do 25 de Abril?
MAP:
Quer dizer, isto do antes do 25 de abril, como já falei nas viúvas, de andarem, assim vestidas, era tudo o respeito que tinham pelos maridos e o medo. O medo dos familiares, tudo, censuravam, os familiares censuravam tudo. E hoje os familiares também já aceitam, tirou, tirou, pronto desde o momento que os respeitemos em vida, depois de mortos, já não faz diferença. É o que eu faço.
MO:
E a maioria das senhoras, aqui, a maioria das senhoras, agora também é assim, não é?
MAP:
A vida das senhoras não era
MO:
Mas é diferente do que era de antes, também mudou Maria Amélia
MAP:
Sim, mudou tudo nesse aspeto, mudou tudo.
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Mo:
Antes do 25 de Abril, fale lá
MAP:
Controlavam tudo, sim. Controlavam tudo sim. Quando eu estive em Lisboa, eu trabalhei ainda no Simões, em vestiário e tirava um ordenado melhor que o do meu marido, porque fui para as empreitadas das Áfricas. E ele como via que eu ganhava mais, viemos passar o Carnaval a Portel e ele teve-me cá oito dias para eu não me poder apresentar ao serviço, para deixar aquilo. Essa foi a pior coisa, às vezes sonho com isso.
MO:
Isso foi antes do 25 de abril?
MAP:
Antes, então, tinha a Amelinha sete anos.
E eu começava a trabalhar às seis da manhã e saía às duas. Fazia o horário seguido. E depois, eu morava numa parte de casa com uma prima do meu marido. Ela entrava às duas e chegava a casa depois de fazer o horário, eu tomava conta do filho, ela tomava conta da minha filha de manhã e eu tomava conta do filho dela da parte da tarde.
MO:
Em termos de creches e apoios à infância também não houve diferenças? Aqui em Portel.
MAP:
Depois do 25 de abril, depende. Depende também, às vezes hoje também se ouve reclamações, porque nem toda a gente tem, pensa no mesmo. Mas o apoio à infância, a câmara também tem auxiliado bem.
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MO:
Vou-lhe perguntar Maria Amélia, houve mulheres aqui que participaram ativamente na política? Houve mulheres presidentes de junta? Mulheres vereadoras? Mulheres na assembleia municipal? Houve mulheres que estiveram à frente da reforma agrária? A Maria Amélia esteve?
MAP:
Eu não assisti a isso. Não estava. Mas depois ainda me lembro de haver a agrária. E das pessoas andarem trabalhando. Eu como herdei da parte do meu marido, uma pequena horta, que eram cinco filhos e cada um teve a sua parte.
Ainda me lembro de uma pessoa dizer que ia apanhar a horta.
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MAP:
E eu fui ter com essa pessoa e disse então vá. Se quer apanhar a horta então vá. Tire-a lá à gente. Eu faço o pouco que lá tenho e a pessoa calou-se e nunca mais me disse mais nada. Mas quer dizer, a agrária foi muito boa para muita gente, mas acabou por ficar em nada.
Quer dizer, as herdades ficaram desbravadas, limpavam tudo, traziam tudo muito aconchegado. Pronto, trabalhavam com gosto pelo que era uma coisa, de uma coisa que tomaram conta depois do 25 de abril. Mas tudo isso acabou. Muita gente trata dos terrenos e muita gente não trata. Porque é assim, os salários de quem vai tratar não dá. Não dá. Por exemplo, eu tenho um pequeno olival, se não fosse o pequeno subsídio que me dão, ao fim do ano, que o meu marido ainda tratou disso, não dava para a apanha da azeitona. Porque quer dizer que quem faz a apanha não passa recibo, e nós temos de pagar.
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MO:
Em 1980, eu soube que havia um grupo de mulheres, que se juntava na rua de Milfontes, e que nas escadinhas se juntavam nas noites de verão
MAP:
Eu hoje, tenho uma casinha com sacrifícios, o meu marido ainda a fez, porque era pedreiro. Mas antes de ter a minha casa morei 27 anos, numa rua que vai para a câmara, tinha a parte de lado que saía para a rua, mas a parte da frente da casa era nas escadinhas. Era de aluguer, pagava a minha renda e lá estava. Mas era uma vizinhança muito boa, aonde eu moro a vizinhança também é boa, porque eu sou uma pessoa que vou daqui da loja, meto-me me casa e os vizinhos ficam na casa deles, só por uma doença ou por uma morte é que a gente se vê, praticamente. Mas na rua de Milfontes era uma família. Nós fazíamos bailes, em beneficência já do lar que ainda não tinha aberto. E eram bailes desde o princípio da rua, a rua não se presta para essas coisas, porque ela não aguenta, mas era uma rua formidável, porque todos colaborávamos. E ali se fazíamos os bailes de verão. Esses bailes todos em benefício do lar, vendíamos cervejas, sardinha assada a um canto, que chamavam o canto do velho carouco.
E ali se juntava o pessoal todo e fazíamos o quiosque nesse cantinho. E depois era o baile até às tantas, e depois do baile acabar, dava-se por acabado, juntava-.se ali a Dona Manuela, Jorge Garcia, companhia limitada, cantando, ele cantava uma canção muito, que já não me lembro qual era e tocava guitarra. Era até de manhã. Mandava aí umas seis horas da manhã ia tudo para a sua casa e lá ficávamos nós na rua, com uma garrafinha de vinho do Porto na janela do velho Carreo e uns copos, para se beber, e começávamos a varrer a rua do princípio ao fim, para quando os camarários passassem, estar tudo limpo. E eles iam felizes da sua vida para o emprego, porque a gente éramos mulheres de trabalho.
MO:
E aquele grupo que se juntava mesmo sem ser em festas, que se juntava nas escadinhas
MAP:
Sem ser em festas, também se lá juntávamos sempre. Cada um contava a sua história, falava-se da vida, outros cantavam. Eram serões muito bem passados, muito bem passados, que esses serões vêm no tempo da Doutora Manuela e do Doutor Vidigal, que por acaso na vida dos meus sogros, iam muito à quinta. Doutor Vidigal, muitos almoços, muitos jantares lá se passaram. São belos tempos, isso eu também além de passarmos miséria, quando se juntávamos todos era uma alegria porque vivíamos felizes assim.
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MAP:
Quer dizer, nessa época eram, vivíamos felizes, não é já depois do 25 de abril lá nos juntávamos todos, como já disse, e cada um dizia as suas coisas, não estavam homens, cada um dizia o que lhe apetecia. Tanto se falava mal como se falava bem, mas tudo ria às gargalhadas, éramos felizes.
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MAP:
Eu fui para a horta da minha sogra e pronto, nessa altura vim e depois como a minha filha andava à escola, fiquei em casa da minha cunhada e isso lhe agradeço. A minha cunhada deixou-me lá estar, tinha um quarto, e eu estava lá e a minha filha também lá, ficava mais perto da escola.
MO:
Em Évora?
MAP:
Cá. É Maria Joana, que também morava na rua de Milfontes, até arranjar casa. Essa casa também era lá ao pé nesse cantinho onde ajuntávamos todas e ali arranjei casa e vivi lá 27 anos.
Das antigas já só lá está a Rosa, a minha cunhada Maria Joana e a outra que o senhor que morava em frente a mim que já é viúva, mas essa não entrava nas festas.
MO:
Como é que era a comida antes e depois do 25 de abril?
O que é que comiam?
MAP:
A minha comida é a mesma coisa. Eu gosto muito de grão, de feijão, cozido, ainda esta semana fiz um chispe, uns bifinhos, essas. Toda a gente me diz, uma mulher sozinha fazer comida, faço comida à minha vontade, ao fim de semana, ao domingo faço um doce, faço arroz-doce, outras coisas. Elas falam muito do meu arroz-doce lá no lar. Eu era uma mulher muito económica, até o leite em pó eu fazia para o arroz-doce, por isso é que eles gostavam de mim. Eu tinha os meus dias, um dia fazia arroz-doce, noutro domingo fazia pudim, quer dizer desencontrava, para eles não enjoarem. E durante a semana também era salteado, nunca dava a mesma fruta ou as mesmas coisas e se dava para fazer um doce, também fazia. Tive sempre, sempre um provedor muito bom para fazer a vontade aos idosos.
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Sempre fui assim. Mas quando havia os festejos do25 de abril, que aqui festejam, eu estava na casa da minha cunhada, a gente punha na varanda as mantas alentejanas, enfeitávamos a rua. Depois umas eram de um partido e as outras de outro, ora púnhamos de um partido, ora púnhamos de outro. Nunca houve confusão, naquela rua nunca houve confusões. E para mim era tudo igual. Eu dava-me bem com todos.
MO:
A vida na Alemanha era diferente?
MAP:
Não lhe sei dizer. Na Alemanha não trabalhei. Quer dizer tive num aviário, foi uma semana. Eu gostava do trabalho, mas eu tinha uma colega do Norte e essa ficou noutro serviço. Um dia mandaram-na limpar as câmaras frigoríficas e ficou lá fechada. Quando achamos falta dela tivemos de lá voltar e ver onde ela estava, porque não estava no carro, estava fechada dentro da congelação. Ela disse, nunca mais eu venho para este trabalho, eu morria aqui se vocês não achassem falta de mim. E eu disse, tu não vens, eu também não venho, não me mandem para lá. Não fui, depois vim-me embora, não é, e cá tive muito tempo sem trabalhar até arranjar no lar.
Como fui para o lar, quer dize a diferença não foi muita, mas quando saí já tinha um ordenadozinho, qual quê, não era muito mau, mas já dava para viver.
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MAP:
Era para juntarem alguma coisa para virem para Portugal
MO:
Mas e os alemães?
MAP:
Os alemães faziam a vida deles
MO:
Mas muito mais…
MAP:
Isso não sei doutora Manuela, mas havia lá pessoas do tempo da guerra, que ainda fiz bainhas de calças para eles, que eles diziam que, para a minha filha, que não levasse a minha filha para lá. Eles eram os próprios que aconselhavam. Que a deixasse estudar cá e que a deixasse estar cá.
MO:
Porquê?
MAP:
Não diziam porque era. Talvez tivessem medo e dessem esse conselho, porque ainda foram pessoas do tempo da guerra. Por acaso davam muitas vezes esses conselhos. Os outros também trabalhavam e faziam a sua vida. E também há emigrantes que fazem uma vida independente.
DH:
Achou uma grande diferença, por exemplo nas casas da Alemanha?
AMP:
As casas na Alemanha, para mim, onde eu morei, quer dizer a primeira era um apartamentozinho, morava num primeiro andar, a construção era diferença. E depois é que tive uma casa, quando fui já com a minha filha, era obrigado, o marido arranjou casa. Tinha um quarto, uma sala grande, a cozinha, casa de banho e tinha a cave. Todos tem uma cave, mas não era grande. Mas era um rés do chão, já estávamos mais à vontade, porque na outra casa quando queríamos tomar banho, tínhamos de pedir para ligarem o cilindro e a água quente, essas coisas.
E ainda não temos tudo à nossa disposição. Por isso, para mim, estamos melhor em Portugal, não há como o nosso país.
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