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Código de referência
Título
Data(s)
- 2024-03-05 (Produção)
Nível de descrição
Documento simples
Dimensão e suporte
97MB; suporte digital (mp4)
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Nome do produtor
História administrativa
Fundado em 1994 , o CIDEHUS começou por designar-se “Centro de Investigação e Desenvolvimento em Ciências Humanas e Sociais”. A sua área disciplinar nuclear era então a Sociologia.
A sua atividade organizava-se em quatro grandes campos:
1) Sociologia do Desenvolvimento;
2) História da Europa do Sul e do Mediterrâneo;
3) Educação e formação profissional;
4) Linguística Geral.
Em 2001 , quando passou a ter na História a sua disciplina nuclear , mudou de designação para Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades . Manteve a mesma sigla (CIDEHUS) e organizou-se em seis linhas:
1) O Sul: dinâmicas sociais e políticas
2) O Sul: culturas, discursos e representações
3) O Sul: património edificado, cultura material e arqueologia
4) Portugal e a Europa
5) Portugal e o Mediterrâneo
6) Portugal e os espaços de presença lusófona
Em 2007 , o CIDEHUS fixou a sua atenção nas problemáticas do Sul , condensando as anteriores linhas em três grupos:
RG1: O Sul e o Mediterrâneo: dinâmicas sociais e culturais
RG2: Património, Cultura Material e Arqueologia no Sul da Europa e no Mediterrâneo
RG3. Bibliotecas, Literacias e Informação no Sul
O programa nuclear foi de novo reajustado em finais de 2013 , configurando-se em torno de: «História, património e mudanças societais: um laboratório do Sul», ramificando-se em duas linhas temáticas, subdivididas em grupos – “L1: Mudanças societais” e “L2: Património e diversidade cultural” – e num grupo de articulação – Literacias e património textual.
O CIDEHUS assumiu então o modelo de laboratório para salientar o seu dinamismo e o seu interesse no conhecimento aplicado .
Em 2018 , o CIDEHUS sofreu uma nova reorganização, passando a dividir-se em apenas dois grupos:
G1 – Mudanças societais
G2 – Património, Literacias e Diversidade cultural.
Com esta alteração, o CIDEHUS pretende reforçar a coesão, estimular o trabalho colaborativo e potenciar as abordagens interdisciplinares.
No passado recente do CIDEHUS, destacam-se ainda os seguintes marcos institucionais:
- 2013 – Criação da Cátedra UNESCO
- 2014 – Criação do Laboratório de Demografia (DemoLab)
- 2016 – Lançamento do CIDEHUS Digital
- 2017 – Criação Laboratório de Turismo (Tourism Creative Lab).
História do arquivo
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Âmbito e conteúdo
Composto pela gravação audiovisual da entrevista e a respetiva transcrição.
Transcrição Joaquina Vidigal
Entrevistada: Joaquina Vidigal (JV)
Entrevistadoras: Maria Ana Bernardo (MAB), Manuela Oliveira (MO)
Localidade: São Manços
Data: 05 de março de 2024
Transcrição: Diana Henriques (27/05/2024)
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JV:
Joaquina Vidigal de São Manços, fui criada aqui, vivi sempre em S. Manços. A infância também não foi pior, tive amigas na escola. Depois fui estudar para Évora, ficávamos a semana toda em Évora, vínhamos ao fim de semana a casa, mas era de casa para a escola e da escola para casa. Não saíamos. E depois cá ao fim de semana, também pouco saíamos, não tinha nada a ver com esta vida agora. Estudávamos, mas também não tínhamos dinheiro para andar a sair como eles agora têm. Nunca saíamos daqui.
MAB:
E na altura em que a senhora foi estudar havia muito mais colegas suas daqui de S. Manços que fossem estudar?
JV:
Era muito pouca gente a estudar nessa altura. A maior parte das minhas colegas ficavam todas no campo, que andaram com a gente na primária. Ficava quase tudo cá a trabalhar. Depois o meu pai teve pessoas que o ajudaram e lhe disseram mete as miúdas a estudar e ele com a ajuda das pessoas com quem trabalhava conseguiu metermo-nos a nós a estudar.
MAB:
Porque o seu pai, a profissão dele era
JV:
Agricultor e trabalhava por conta de pessoas aqui da zona, que tinham herdades e isso. Tomava conta dos trabalhos, tinha pessoas a trabalhar para ele e depois tomava conta do trabalho das herdades. E trabalhavam lá. E ele conseguiu meter lá nós as três a estudar, nessa altura.
Depois casei-me, não foi feliz, não foi muito feliz no casamento. Fui feliz o tempo que tive, mas depois tive a infelicidade de ficar viúva. Fiquei com duas miúdas. Uma tinha sete e a outra ia a fazer dois. Mas com a ajuda também do meu pai, do meu sogro e isso, consegui acabar a casa e que elas estudassem as duas.
MAB:
A senhora achava, achou importante que elas estudassem?
JV:
Sim
MAB:
Porquê?
JV:
Porque lhes queria dar um futuro melhor. Queria que elas tivessem e depois consegui também, nessa altura, com ajuda, lá está não foi sozinha, sempre me ajudaram. E hoje tenho dois netinhos, um deles já tem catorze anos, o outro tem sete. E foi assim a minha vida, depois fui para a fábrica e estive lá quase 44 anos e foi esse o meu percurso.
MAB:
Mas a senhora quando foi estudar fez até que ano?
JV:
O nono ano
MAB:
Fez o nono ano
JV:
Não quis estudar mais. Nessa altura queria
MAB:
E fez o nono ano onde?
JV:
Na escola industrial, onde é hoje a Gabriel Pereira.
MAB:
E fez que curso lá, curso comercial, industrial?
JV:
Era o curso, como é que se chamava, curso geral do comércio. Já não me recordo bem, sei que é na parte do comércio
MAB:
Curso geral do comércio
JV:
Tinha contabilidade, direito e havia a parte da indústria. Que era mais dos rapazes
MAB:
Que era mais dos rapazes. As meninas iam mais para a parte comercial. E não foi para o liceu porquê?
JV:
Eu sei lá, talvez porque os meus primos, filhos das minhas tias, tinham todos andado nessa escola. E nós se calhar fomos para aí influenciados por eles, isso também já não sei, mas devia ter sido. E como as minhas tias moravam ao pé dessa escola, se calhar acharam melhor irmos para essa. E acho também que era a escola que tinha mais referência nessa altura, a escola industrial. Acho que foi por isso.
MAB:
E depois terminou a escola e não quis estudar mais ou
JV:
Eu não quis, porque depois juntei-me nessa altura. Não casei, juntei-me. Já estava grávida. Então acabei por juntar-me e já não quis estudar mais. Só uma das minhas irmãs é que tirou, as duas têm o décimo segundo. Pois juntei-me
MAB:
A senhora sendo a mais velha portanto
JV:
Não quis estudar mais. Depois ainda fiquei em casas esse tempo que estive grávida e quando a minha filha mais velha tinha um ano foi quando entrei para a fábrica, até hoje.
MAB:
Entrou para a fábrica que na altura se chamava?
JV:
Era as Siemens
MAB:
Era a Siemens
JV:
Era as Siemens em Évora.
MAB:
E trabalhou lá quantos anos?
JV:
Trabalhei lá 44.
MAB:
Quase 44 anos?
JV:
Gostei de trabalhar na fábrica, sei que está diferente agora. Agora os trabalhos são diferentes, mas foi, gostei muito ao ponto de me vir embora gostei de trabalhar. Apertaram mais, talvez pelas pessoas abusarem um bocadinho, foi na altura em que havia sindicato, foi quando eu entrei. Depois acabaram com o sindicato, foram acabando com as regalias todas, mas também eu acho que houve muito abuso por parte das pessoas, mas não sei.
MAB:
Como é que a senhora vê as coisas
JV:
Eu acho isso. E eles hoje apertam, não dão liberdade nenhuma. Por exemplo nós dantes íamos ao pequeno almoço, ia tudo ao mesmo tempo e depois em vez de se ter um quarto de hora, tinha-se quase meia hora, isso tudo foi acabando. Começamos a ter cartões, tinha toda a gente que cumprir, com os cartões, um quarto de hora de manhã, dez minutos à tarde, começaram a exigir aquelas compensações, que isso ainda não percebi porque é que tínhamos de começar a compensar esse tempo. Pronto isto agora já não tinha nada a ver como quando eu fui para a fábrica.
MAB:
As condições de trabalho alteraram-se
JV:
Há muito, mas eu mesmo assim gostei de trabalhar lá, pronto não sei. Tinha de trabalhar. Nós quando vamos para a fábrica temos de trabalhar ou para outro trabalho qualquer. E eu sempre trabalhei. E se calhar também há muita gente que pensa que vai para além, não trabalha, não sei. E eles foram cada vez mais apertando com as pessoas, não sei. Eu sempre respeitei as pessoas e gostei de trabalhar, pronto. Mas vê-se que está diferente, depois acabaram com sindicatos, nós tínhamos plenários, tínhamos direito a estar a ouvir o plenário, tínhamos direito a parar de greves. Foram acabando com tudo.
MAB:
Agora já não existe lá nada
JV:
Já não existe lá nada, têm medo. E depois a maior parte das pessoas agora é tudo contratados. Já está tudo com medo, tem tudo medo. Pronto, mas foi uma empresa que desde o primeiro dia que eu entrei, até ao último, nunca falhou um ordenado. É muito importante. Nunca, nunca, nunca falhou um ordenado. Isso é verdade.
MAB:
Tem ideia de quando começou lá a trabalhar, quantas mulheres é que havia lá a trabalhar?
JV:
Não faço a mínima ideia. Era muito menos, agora a fábrica está o dobro quase, não tinha nada. E quando foi a parte Siemens, também quando era os alemães e isso eles sempre respeitaram e nos deram garantias. Cada vez foram sempre pior as coisas, deixaram de os alemães mandar também, acho que também teve um bocado de influência isso. Os portugueses ou sei lá quem era e hoje em dia é muito diferente, pronto. As pessoas querem subir, subir e ultrapassam tudo e sei lá o quê. É totalmente diferente de quando nós entramos.
MO:
Vamos voltar um bocadinho a trás, como é que foi a sua juventude?
JV:
Eu não tenho assim muito, foi a estudar e pouco mais. Nós não tínhamos o que essa juventude tinha hoje. Era esses bailaricos aí das aldeias era o que nos divertia, os filmes aí de parede, ainda me lembro de dar na parede. E pronto, pouco mais. Eu até ao ponto de hoje ainda não entrei numa discoteca. Não tem nada a ver. Bares e isso, nós nunca tivemos nada disso. Era divertimentos só de aldeia, era os mastros aí nas ruas, quando era aí na altura do S. João fazia-se os mastros, fazia-se as fogueiras, praticamente foi isso, pouco mais. Nós não saímos daqui. Era o Carnaval fazíamos três dias matinés, à noite quando era o baile já não podíamos ir sozinhas. E era assim. E daqui ninguém saía daqui era muito raro. Na minha altura, nem me lembro de ir para Évora num dia à noite. Era tudo aqui passado, divertimentos de aldeias. Era a feira, que era uma barraca e meia e um carrossel e pronto era o que nos fazíamos.
Nem praias, nem nada. Eu nunca fui, só mais tarde só depois de ser viúva é que eu comecei a ir à praia com o meu pai e as minhas irmãs, ninguém ia, nós não tínhamos férias assim. Porque tínhamos de ir todos os anos para as praias, eu não conhecia as praias nem nada. Mais tarde, já depois de viúva já tive outra vida que não tive em mais nova. Por isso, a minha infância foi só isto e nós éramos alegres, e pronto. Olhe e era às vezes passada aí nos ribeiros às rãs, ainda me lembro rãs no ribeiro, e era os nossos divertimentos. E pelo carnaval lá vestíamos aí umas, e lá brincávamos nas ruas, pouco mais.
MAB:
Mas por exemplo, comparando quando era nova, com as suas filhas, com a vida das suas filhas, há diferenças? E a senhora permitia já que as suas filhas tivessem uma vida diferente ou não?
JV:
Muito diferente, graças a deus, já tiveram outra liberdade. Embora elas não fossem umas miúdas que me dessem muito trabalho, também não eram, tive sorte nisso também. Sempre saíam, sempre foram a discotecas e a bares, mas sempre souberam andar, pronto. Não tive problemas nenhuns com uma nem com a outra. A mais nova essa então quase que não sai.
MAB:
Com as suas filhas pois
JV:
Também já tiveram diferente, também, já saíam, mas sempre souberam sair, sempre souberam se comportar, graças a deus.
MAB:
E a senhora achava que elas deviam sair, porquê?
JV:
Ora porque se calhar a própria sociedade já permitia que nós olhássemos de outra maneira. E todos já faziam, e elas também queriam, então se calhar íamos indo todos atrás uns dos outros. E porque é que elas vão e a gente não pode ir, já tiveram uma vida completamente diferente da minha, mesmo diferente. Embora, dentro do respeito, mas tiveram uma vida diferente.
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MO:
E ao nível aqui da aldeia, houve outras melhorias das pessoas terem outras condições, para a educação dos filhos, para poderem praticar desporto, para aqui ao nível da aldeia, a senhora acha que houve muita diferença?
JV:
Sim sempre evoluiu um bocadinho, há várias coisas, que no outro tempo ninguém tinha, há tempos livres, há passeios com as crianças, há. Fizeram a creche nova também, acho também que modificou um bocado. Acho que a Florinda, também tem feito muito aqui até agora.
MAB:
E quando as suas filhas foram estudar, para Évora não foi?
JV:
Sim, sim.
MAB:
E já havia mais, aí como é que era, quando a senhora foi estudar havia pouca gente a ir estudar?
JV:
Sim
MAB:
E quando as suas filhas foram estudar, a geração delas já havia mais gente a estudar?
JV:
Sim, nessa altura já quase toda a gente, já toda a gente ia estudar.
MAB:
No tempo das suas filhas?
JV:
Sim, sim. Eram camionetas já cheias de pessoas para irem estudar, já ia quase tudo, quase tudo, tudo. Já quase tudo ia para estudar. Era muito raro a rapariga que ficava aqui em S. Manços, já quase toda a gente tinha possibilidade de mandar estudar os filhos, pelo menos até ao nono ou ao décimo. Quase todos têm o nono ou o décimo segundo.
MAB:
As pessoas da geração das suas filhas?
JV:
Sim, sim, sim, quase todos já têm. Já ninguém, por exemplo na nossa altura, os rapazes quase todos iam aprender ou para serralheiro ou iam para o campo, e nesta altura já não, já iam estudar.
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Parcial
Datas de criação, revisão, eliminação
Línguas e escritas
- português
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- latim
Fontes
Objeto digital metadados
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PT-CIDEHUS-SHAMEM-VOZPLU-0003-0001-0002-0001_d.mp4
Latitude
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Vídeo
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video/mp4